Angélica Rizzi

running on beach,Pablo Picasso DEMORA INDEFINIDA Há páginas em branco Que devem ser preenchidas Em letra miúda um fraseado simples Quase infantil Para, que as portas continuem abertas E, as ruas desertas Quando a noite chegar E, as brumas esconderem nossos sentimentos mais secretos Há o tempo cristalizado como um Senhor de barbas longas Mas, que é um apenas um menino Desejoso, que sua pipa coberta de estrelas Se perca no azul do céu Há lembranças emaranhadas entre os espaços de um pensamento, e imagens que lutam, com palavras Há os espelhos Que não nos escondem a verdade Há os amigos, que ora amamos ora odiamos pela sinceridade, e que cativamos, para compartilhar a vida. Há alguém que idealizamos. Além de nós, Nossos pais E, que queremos bem. e, sonhamos flutuar por toda eternidade de um momento

Odd Nerdrum/Norwegian, b. 1944 /Spring, 1977/ Oil on canvas MEDITAÇÃO Vou fatiá-lo em pequenos pedaços Preenchendo-os com saliva Enleando o néctar Que, incendeia teu sexo Cobri-lo de beijos Até a virilha Titubeando, como se embriagada Respirar as palavras que povoam a atmosfera lúgubre na sala onde o sol invade as janelas e, os amantes despem-se sem pudor. Mergulho na tua decência {Mastigo tua inocência}. Enlambuzo tua moral de poesia Visto as botas Dispo as máscaras E, te deixo adormecer no meu colo. Um filhote manso Repousa entre minhas pernas Flutuando na minha essência Devorando minhas entranhas

Music,Henri Matisse Uma voz de anjo cantava algum cântico advindo do céu E a superfície onde meu corpo repousava parecia mais acolhedora. Deveria ser porque eu não sentia mais minhas pernas, E as batidas do meu coração, Este que outrora havia amado tantas mulheres Não respondia mais aos estímulos das mãos bondosas Dos olhares curiosos Somente, minha alma pululava pelo céu inchado de nuvens, E, procurava algum local conhecido, Ou alguma face com traços de arlequim, Para que me resgatasse, E gargalhasse naquele quase purgatório. E, me envolvesse na atmosfera dos entes queridos, Que eu havia esquecido, que abandonei. tudo para viver toda a liberdade almajeda. um espírito livre, Um animal sem dono. Meu corpo Era apenas uma morada sem portas, Nem janelas apenas orifícios, E passagens para outras dimensões

CONVITE Meu corpo é apenas uma morada sem portas, sem janelas Orifícios, que outrora respiravam através da casca porosa alimentam-se de linfa e, sonhos acomodam o vaivém das almas, que se encontram em segredo. Lá as palavras voam, como o vento E, eu te convido, para bailar. Encontrar meus lábios Abraçar o corpo Que outrora a névoa ocultava Desnudar os personagens do passado Descansando-os no cabide, que serve de boas-vindas na passagem sem volta,para felicidade

A POSIÇÃO DAS ESTRELAS(A. Rizzi) Quando menina eu tentava adivinhar a posição das estrelas na grande peça dos sonhos, na margem de cada verso.Enquanto aguardava identificar a constelação da Ursa Menor. Então, rabiscava, com meu lápis furta-cor o livro imaginário, que se estendia entre minhas mãos. Contando a história da minha vida embalada, pela dança de cada verso. Em minha inocência eu almejava criar, e acrescentar algo além da minha própria biografia. Assim uma pequena e simbólica sementinha era plantada na minha trajetória, tomando corpo em cada letra no tempo em que, eu aguardava a passagem dos astros luminosos. Na esperança de chegar no coração das pessoas, aguçar os sentidos, e relembrar alguma passagem do cotidiano. Eu só tinha a imaginação, e muitos sonhos para encontrar, juntamente, com a inspiração as estrelas que iam se transformando em canções. As músicas do CD Águas de Chuva as estrelas que eu idealizei nas passagens da minha vida, são astros de felicidade que abrem as po

Sleep, Francisco de Goya Palavras, que voam como o vento Sorriso, que abriga um vendaval A cada momento em você eu procuro à mim Na minha alma eu sinto você e,os meus olhos avistam seus olhos, Eu me deito com a lua E, renego o amanhecer Não há nada além nesse Mundo Não há nada além de você Desço correndo as ruas Ah como voa meu coração Eu acordo sorrindo Cantando Desejando, que não venha solidão Eu me alimento de poesia Bebo ilusão Eu ando nua pelos bordéis Eu declamo versos de amor, para quem quiser Eu sigo até onde o outono abriga as folhas, que desfilam junto a nós É você meu homem Eu me entrego Nessa canção Desço correndo as ruas Ah como voa meu coração Eu acordo sorrindo Cantando Desejando, que não venha solidão Eu me alimento de poesia Ah como voa meu coração

estou em movimento me debato procuro meu suor vertes cantos enquanto canto me debato danço me entrego... suspeito que seja eu que esteja ali e grito e me solto canto para viver e enquanto canto não danço vivo...H.Skelter